A importância do pós-parto fora do “mundo ocidental”

O nascimento do bebê é um momento de muita alegria. Ao mesmo tempo, a mãe fica sensível e assustada com a responsabilidade de zelar por uma nova vida.

No Brasil, entre 50% e 70% das mulheres apresentam o “baby blues” (tristeza pós-parto), que dura cerca de duas semanas. A depressão pós-parto é mais rara, atingindo entre 10% e 15% das mulheres. Ela se prolonga e pode durar entre 30 dias e dois anos.

Por outro lado, em países como Uganda e China, transtornos pós-parto praticamente não existem. De acordo com a psicóloga Kathleen Kendall-Tackett,  é uma questão cultural. Em artigo reproduzido pela revista “Women’s Health”,  ela cita um texto acadêmico produzido em 1983 por Gwen Stern e Laurence Kruckman.

As pesquisadoras fizeram uma análise antropológica para entender o que determinadas culturas fazem diferente para que a saúde mental da nova mãe seja mais equilibrada. Elas descobriram que há uma série de rituais que dão suporte e cuidados para a mulher. Mesmo diferentes entre si, sociedades asiáticas e africanas utilizam cinco estruturas de proteção social:

1 - PÓS-PARTO DISTINTO

 

 

Nessas culturas, o pós-parto é um período distinto da vida normal. É um momento em que a mãe deve se recuperar, portanto suas atividades são limitadas e seus parentes cuidam dela – principalmente as mulheres. Esse tipo de cuidado também era comum na América Colonial e funcionava como um tempo de aprendizagem, quando mães mais experientes orientavam a nova mãe.

2 - MEDIDAS DE PROTEÇÃO QUE RECONHECEM A VULNERABILIDADE DA NOVA MÃE

 

No pós-parto, a mulher está especialmente vulnerável. Nas culturas estudadas, ela é submetida a rituais como banhos, lavagem dos cabelos e fortalecimento do abdômem. Isso também é comum na área rural da Guatemala e na península de Yucatán (México), cujo costume foi herdado do povo Maia.

3 - RECLUSÃO SOCIAL E DESCANSO OBRIGATÓRIO

 

O pós-parto é um tempo para a mãe descansar, recuperar as forças e cuidar do bebê. O isolamento social está relacionado à vulnerabilidade e à necessidade de adaptação.

Na região do Punjab (Índia), as mulheres e seus bebês são isolados de todos os parentes, com exceção da parteira, por cinco dias. Isso ajuda a promover a amamentação e limita as atividades normais da mãe. Essa prática contrasta com valores do Ocidente, onde a mulher recebe visitas logo na maternidade e tem a obrigação de entreter familiares e amigos.

4 - ASSISTÊNCIA FUNCIONAL

 

Para que a reclusão e o descanso obrigatório ocorram, as mães devem ser aliviadas da carga de trabalho normal. Nessas culturas, as mulheres recebem alguém para cuidar das crianças e desempenhar deveres domésticos. Isso é similar ao que ocorria no período colonial nos Estados Unidos, quando as novas mães retornavam às casas de sua família de origem para garantir que a assistência estaria disponível.

5 - RECONHECIMENTO SOCIAL DO SEU NOVO PAPEL E STATUS

 

Nas culturas dos países mencionados, há uma grande atenção voltada para a mãe. Na China e no Nepal, o status da nova mãe é reconhecido por meio de rituais e presentes. Na cultura Punjabi, existe a “cerimônia de peregrinação”, que inclui banho e lavagem de cabelo realizados pela parteira e uma refeição cerimonial preparada por um brâmane (membro da casa sacerdotal na Índia). Quando a mãe retorna à família do marido, ela carrega consigo muitos presentes que recebeu para ela e para o bebê.

Em Uganda, três meses após o nascimento do filho, a mulher da etnia Chagga tem sua cabeça raspada e é coroada com uma tiara, além de vestir peles antigas decoradas. Usando essas vestimentas, faz sua primeira aparição pública com o bebê. Anda lentamente entre os membros do seu grupo social, que entoam canções de vitória. Para o bebê, isso significa que não é mais tão vulnerável e está pronto para dar os primeiros sorrisos e conhecer o brilho do mundo.

O QUE ACONTECE NOS PAÍSES OCIDENTAIS

Em países como Estados Unidos e Brasil, a preocupação com é mãe é maior durante a gravidez. Todos prestam ajuda e cuidados à gestante e perguntam sobre seus sentimentos. Ela participa de aulas e consultas médicas e recebe suporte emocional.

Após o nascimento da criança, o suporte à mulher declina rapidamente. Quando faz parto normal, recebe alta da maternidade cerca de 24 ou 48 horas depois. No caso de cesariana, é dispensada do hospital entre dois e quatro dias após o parto. Ela pode ou não ter ajuda em casa e seu companheiro retorna ao trabalho logo em seguida.

A nova mãe é deixada sozinha para aprender a amamentar, cuidar do bebê e de si própria. Os amigos e parentes que a visitam estão mais interessadas no bebê e ela pode se sentir abandonada emocionalmente. Muitas mulheres acham o período pós-parto muito estressante e se sentem culpadas por isso. Para Kathleen Kendall-Tacket, é preciso rever o valor dado à mãe na sociedade.

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