Menos culpas, mais atenção: o comportamento dos pais afeta os filhos?

Pais que comem demais criam filhos comilões? Adultos que têm medo de tudo transmitem isso às crianças? Não necessariamente.

Pais que comem demais criam filhos comilões? Adultos que têm medo de tudo transmitem isso às crianças? Não necessariamente.

Mamães e papais — principalmente os de primeira viagem — acreditam que precisam ser perfeitos para criar filhos perfeitos. O primeiro passo para se libertar desse fardo é encarar duas verdades. A primeira é que tanto você, quanto o seu bebê, são seres humanos cheios de defeitos. A segunda é que a criança provavelmente terá hábitos e traços de comportamento que não foram ensinados em casa. Afinal, toda criança é um indivíduo único, com personalidade e vontades próprias.

A psicóloga Mariana Pucci explica que, segundo o senso comum, há uma ideia de “espelhamento”, segundo a qual a criança está mais propensa a repetir o comportamento dos pais. “Com certeza ela vai se formar a partir de traços que recolhe na relação com o outro. Mas não sabemos exatamente quais traços ela recolhe do pai e da mãe. Entra, então, a riqueza de cada sujeito, pois ele pode reagir de diversas formas”, afirma.

O filho de um adulto que come muito, por exemplo, pode rejeitar esse comportamento e adotar uma alimentação saudável. “Não sabemos como a criança vai responder ao que ela vivencia. Por isso existem irmãos que são tão diferentes um do outro. Cada sujeito forma sua própria personalidade e modo de existir no mundo”, argumenta.

PERFEIÇÃO? NÃO EXISTE!

Entender que nem todos os hábitos paternos e maternos são adotados pelo filhos é positivo pois liberta os pais do medo de falhar. Por outro lado, reconhecer e aceitar as próprias falhas é importante. Esse comportamento ajuda a criança a entender que ela também tem falhas e que assumi-las é preciso.

Além disso, quando os pais acreditam que precisam ser perfeitos, a criança também sente a necessidade de corresponder às expectativas. Quando não corresponde, sente-se frustrada e pode desenvolver certos comportamentos negativos em resposta.

Mariana chama atenção para os casais que colocam o filho como centro de todas as dinâmicas e deixam de lado seus problemas de relacionamento. “Quando a criança está nesta posição, isso tem grande efeito sobre ela e pode acabar somatizando. Ela vai tentar suprir ou lidar com esses problemas com comportamentos determinados, como comer demais”, afirma.

Pais inseguros, que têm dificuldades para fazer amizades e se recolhem com os filhos, também podem depositar uma certa expectativa na criança e acabar provocando dificuldades de relacionamento no pequeno. Outra situação inversa que pode ocorrer diz respeito aos pais ausentes e que preenchem essa lacuna com atividades intermináveis para o pequeno, como aulas de inglês, natação ou sapateado.

Mariana conta que recebeu uma criança no consultório que estava comendo compulsivamente e ganhando o peso. O pai, preocupado, logo explicou que a mãe foi vegetariana durante um período, impedindo a filha de comer carne. Na sua opinião, essa atitude provocou na pequena a vontade de comer em demasia. Mas quando ligou para marcar horário com a especialista, disse que deveria “checar a agenda da filha para entender quando teria um tempo livre”.

Na opinião da psicóloga, toda a pressão em cima da agenda lotada da menina seria um gatilho maior para o novo comportamento do que os hábitos de alimentação da mãe.

CADA CRIANÇA TEM SEU UNIVERSO PARTICULAR

Para mariana, conhecer as particularidades da criança é mais importante do que olhar demais para o comportamento dos adultos. Hábitos muito negativos, é claro, devem ser evitados. Mas para impedir que o pequeno adquira comportamentos indesejados, é importante conversar com ele sobre isso e estar presente em sua vidinha.

“Pai e mãe podem transmitir muito ao filho pelo simples ato de brincar com ele, por exemplo. Durante a brincadeira, a criança elabora um monte de coisas”, diz a especialista. “Trata-se mais de transmitir suas experiências, valores, educação e de estar aberto a escutar”, completa.

Os pais não podem se responsabilizar por todas as escolhas do filho — e não é nada saudável viver com esse fardo. Por outro lado, podem estar abertos a conhecer suas particularidades e, quando necessário, lidar com elas. Que tal mergulhar no mundinho particular do seu pequeno?

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